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Gás chega ao Araripe

A queima de lenha para a produção de gesso começa a tornar-se uma prática do passado
O gás natural começa a chegar ao Polo Gesseiro do Araripe para iniciar um processo de substituição da matriz energética usada nos fornos de produção de gesso das empresas locais. Sem o gasoduto, uma reivindicação do setor – que utiliza a queima de lenha para a produção, o combustível está chegando à região através de caminhões. A primeira empresa a operar com o gás natural comprimido, ainda em testes, é a Gesso Forte, devendo chegar em breve na SM Gesso e na Supergesso.
Dificuldades com o uso de matrizes energéticas poluentes e não renováveis – coque do petróleo e a queima da madeira – levaram o Sindicato da Indústria do Gesso (Sindugesso) a procurar alternativas para o desenvolvimento produtivo de forma sustentável. “Apresentamos ao governo as necessidades de alternativas energéticas para a região. Verificou-se a possibilidade de trazer o gás. O trabalho que está sendo feito é o de identificar o consumo, custo e preço para viabilizar a vinda do gás”, diz o vice-presidente do Sindugesso, Josias Inojosa Filho.
Para tornar competitivo o uso e transporte de gás via carretas, o Governo do Estado já isentou o ICMS sobre o gás natural para uso industrial no Araripe. A medida é vista pelos empresários do setor como um fator importante para atração de novos empreendimentos. Segundo informações da Copergás, o Estado estuda a possibilidade de isentar também o combustível para os caminhões que fazem o transporte do gás. “Nosso objetivo é levar o gás para a região com o mesmo preço que ele chegaria através do gasoduto, que nesse momento ainda não é viável”, afirma Aldo Guedes, presidente da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás).
Além da isenção de impostos por parte do Governo, uma das ações fundamentais para viabilizar um preço competitivo do transporte foi a instalação da Central de Distribuição de Gás Natural Comprimido em Caruaru, onde as distribuidoras poderão se instalar e construir suas bases de compressão. “A partir disso ganhamos 120 km de interiorização no Estado”, diz o presidente da Copergás.
Inicialmente o consumo de gás na região está sendo de dois mil metros cúbicos por dia. Nos cálculos da Copergás, esse volume deve ficar entre 200 e 300 mil metros cúbicos por dia quando todo o polo estiver sendo atendido. A meta da companhia é que esse alvo seja atendido até 2016. “Esse é um investimento de longo prazo. A chegada de volumes maiores de gás na região vai depender muito do mercado local, que vive um momento de grande pujança, com grandes empreendimentos estruturadores”, pondera Guedes.
A chegada do gás via caminhão tem beneficiado outros municípios do interior. Segundo informações da Copergás, diversas cidades que não possuem conexão via gasoduto, como Belo Jardim, Palmares, Garanhuns e Toritama já recebem gás natural comprimido.
MEIO AMBIENTE
Além da chegada do gás ser importante do ponto de vista econômico para a região, outro problema que pode ser ao menos reduzido é o desmatamento da Caatinga. Existem projeções de estudos captados pela Secretaria do Meio Ambiente de Pernambuco que apontam a desertificação em algumas cidades da região do Araripe em 16 anos. “Quanto mais gás natural usado nas empresas de gesso, menos impacto teremos na Caatinga. Diante do risco de desertificação, isso passa a ser um assunto urgente”, diz o secretário de meio ambiente, Sérgio Xavier.
Mesmo com a chegada do gás natural, o secretário alerta que não será ainda o fim da extração da lenha. “Temos que lembrar das milhares de famílias que vivem da comercialização da lenha. Além da questão ambiental, há um fator social.” Xavier afirmou que a secretaria está com um plano de incentivo ao uso sustentável da lenha, com ações voltadas para as famílias que vivem da extração.
Polo Gesseiro cresceu 30% só no ano passado
O Polo Gesseiro cresceu 30% em 2010, segundo informações do Sindicato da Indústria do Gesso (Sindugesso). Impulsionado pelo aquecimento do setor imobiliário brasileiro, a demanda por gesso vem crescendo, o que acelera a chegada de novas empresas para a região. “Além das 142 indústrias de gesso que já atuam no Araripe, outras 26 se instalam de olho nas oportunidades de negócios com o gesso”, afirma o vice-presidente do Sindugesso, Josias Inojosa Filho.
A origem dos novos empreendimentos que chegam à região são de todo o País, sendo sua maioria indústrias de transformação da gipsita em gesso. “Tem empresários que vêm de São Paulo, do Centro-Oeste, bem como empresários da própria região que estão vendo bons horizontes para o setor. O problema é que essa atração de empresas ainda é desordenada, o que gera uma concorrência por vezes predatória”, alerta Inojosa.
Como o setor imobiliário tem um cenário de crescimento ainda amplo e vem utilizando mais gesso nas suas construções, os empresários do polo – que responde por 95% de todo o gesso usado no País e possui 40% das reservas mundiais – tem metas bem otimistas para os próximos anos. De acordo com projeção da MB Associados, por exemplo, só a classe C demandará de 1,4 milhão de imóveis por ano até 2016.
“A nossa expectativa é de que o setor cresça em torno de 30% ao ano, nos próximos cinco anos”, disse Josias Inojosa. Segundo dados do Sindugesso, mesmo em meio a crise internacional, em 2009, o setor conseguiu crescer 17%.
Apesar do crescimento de produção, o consumo nacional per capita de gesso ainda é bem abaixo do existente na Europa, Estados Unidos e em países vizinhos como Chile e Argentina, segundo o Sindugesso.(Rafael Dantas)
Fonte: Jornal do Commercio / Vale do São Francisco / 04-04-2011

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